Vivemos uma era em que pensar virou um ato quase subversivo. O que cresce, dia após dia, é uma devoção silenciosa a figuras públicas transformadas em oráculos. Já não se busca argumento — se busca aprovação. E, nesse jogo, muita gente deixou de formar ideias para apenas repetir discursos. Não se trata mais de opinião própria, mas de eco.
Ter ídolos intelectuais, políticos ou culturais é natural. O problema começa quando essas figuras deixam de ser inspiração e viram escudo. O sujeito já não raciocina a partir de uma ideia — ele a abraça por completo, sem digerir. Não há análise, apenas defesa incondicional. Não há ponderação, só trincheira.
E isso independe de formação. Seja em universidades consagradas como Stanford ou nos cafés de esquina onde se forma a sabedoria popular, o fenômeno se repete: um culto à autoridade que dispensa qualquer espírito crítico. A figura admirada se torna intocável. Criticá-la é traição. Discordar é blasfêmia. Dúvida? Só dos outros.
É esse ambiente que sufoca o debate e eleva a intolerância. A imprensa vira alvo. As instituições, suspeitas. Os fatos, descartáveis. Porque se o líder de estimação jamais erra, qualquer tentativa de mostrar o contrário precisa ser desacreditada. E assim, constrói-se um mundo à prova de realidade.
Mas aqui vai o incômodo: e se o comportamento que você tanto condena nos outros estiver presente, disfarçado, em você mesmo? Será que a sua crítica ao fanatismo não está, ela também, ancorada num altar pessoal que você se recusa a examinar?
É fácil identificar o exagero ideológico alheio. Difícil é admitir que, às vezes, nossa própria convicção tem mais a ver com conforto do que com verdade. Porque romper com certezas dá trabalho. E pensar sozinho, sem escorar em slogans ou figuras de autoridade, exige coragem. A pergunta que fica: você está disposto a bancar esse risco?