A estupidez, ao contrário do que se costuma imaginar, não é só ausência de inteligência. É uma forma persistente e confiante de burrice — repetida com tanta segurança que às vezes parece até método. Por isso a chamo de idiossincrasia da estupidez: uma lógica torta, previsível, que se disfarça de opinião firme e posa de verdade absoluta.
Ela está por todo lado. Tem gente que carrega certezas inabaláveis sem ter lido um livro, que debate com base em frases de internet e acredita que gritar mais alto é o mesmo que ter razão. Mesmo diante de fatos óbvios, a estupidez responde com desconfiança, ironia e aquela famosa “opinião própria”, como se ignorar fosse um direito sagrado.
Esse tipo de estupidez se espalha como praga nas redes sociais. Replica-se, viraliza e ainda ganha pose de pensamento crítico. Tem gente que compartilha bobagens como se estivesse fazendo um favor à humanidade, que ergue a ignorância como bandeira e acha bonito ser hostil ao conhecimento. Hoje, a estupidez não se esconde — ela se exibe com orgulho e ganha aplauso.
E quando vira hábito, contamina. Mata o debate, paralisa o raciocínio, e transforma qualquer tentativa de argumentar em acusação de arrogância. Combater isso virou quase um dever cívico — não para convencer os irrecuperáveis, mas para proteger o pouco de lucidez que ainda resiste.
Claro, tem hora em que dá vontade de jogar a toalha. A estupidez parece blindada contra qualquer argumento, e a paciência tem limite. Mas calar é deixar o mundo nas mãos do motorista mais bêbado da estrada. E por mais inútil que pareça, às vezes levantar a voz é só uma maneira de lembrar à estupidez que ela ainda não venceu.