Blog do Durango

Abril de 1945: O Fim Começa Aqui

Abril de 1945 foi um mês em que a história se desenrolou de forma irreversível, marcando o fim do maior conflito que a humanidade já enfrentou. O mundo, esgotado por seis anos de guerra, assistia à derrocada do nazismo e à queda dos últimos pilares do fascismo europeu. Berlim, em ruínas, tornou-se palco da ofensiva final do Exército Vermelho a partir do dia 16 de abril, quando teve início a Batalha de Berlim. Enquanto tanques soviéticos atravessavam as ruas devastadas da capital alemã, Adolf Hitler, cercado por lealdades fragmentadas e pela certeza da derrota, selava seu destino em um bunker subterrâneo. No dia 30 de abril, ele se suicidava ao lado de Eva Braun, encerrando simbolicamente o capítulo mais sombrio da história da Alemanha moderna.

A poucos quilômetros das frentes de batalha, soldados aliados libertavam campos de concentração que revelaram ao mundo uma dimensão do horror até então inimaginável. Em 11 de abril, as tropas americanas chegaram a Buchenwald. No dia 15, os britânicos libertaram Bergen-Belsen, onde encontraram milhares de corpos e sobreviventes à beira da morte — entre os mortos, o nome de Anne Frank ganharia, tempos depois, um peso simbólico. No 29 de abril, as forças dos EUA libertaram Dachau. Foi nesse abril que as imagens dos corpos amontoados, dos sobreviventes esqueléticos e das valas comuns começaram a circular entre os exércitos libertadores. Com elas, emergia a plena consciência do Holocausto. A libertação desses campos não apenas pôs fim a um sistema de extermínio, mas também lançou uma responsabilidade moral sobre as gerações futuras: a de lembrar, documentar e jamais permitir a repetição.

No mesmo mês, a Itália também selava seu rompimento definitivo com o fascismo. Em 27 de abril, Benito Mussolini foi capturado por partisans italianos enquanto tentava fugir para a Suíça. No dia seguinte, 28 de abril, foi executado junto com sua companheira Clara Petacci. Seus corpos foram pendurados de cabeça para baixo em uma praça de Milão, numa cena brutal que sintetizava o colapso de um regime baseado na violência.

Nos Estados Unidos, o choque veio em 12 de abril, quando o presidente Franklin Delano Roosevelt morreu repentinamente em Warm Springs, vítima de uma hemorragia cerebral. Roosevelt havia liderado o país por doze anos e era uma das figuras centrais da luta contra o Eixo. A transição para o vice-presidente Harry S. Truman gerou apreensão, mas foi decisiva para a continuidade da guerra e dos acordos de paz. Truman herdaria não apenas a presidência, mas também o segredo mais bem guardado do conflito: o Projeto Manhattan e a construção da bomba atômica.

Enquanto o velho mundo se desmontava, os alicerces do novo começavam a ser erguidos. Em 25 de abril, representantes de cinquenta países reuniram-se em São Francisco para a conferência de fundação da Organização das Nações Unidas. Era o início formal de uma tentativa global de evitar que uma catástrofe semelhante voltasse a ocorrer. A ONU nascia como resposta à falência da diplomacia entre guerras, trazendo consigo uma promessa de cooperação internacional, ainda que imperfeita.

Oito décadas depois, em abril de 2025, vivemos um mundo diferente, mas marcado por ecos desse passado. A ascensão de discursos extremistas, o enfraquecimento das instituições democráticas, os conflitos armados persistentes e a fragilidade do multilateralismo global indicam que as lições de 1945 ainda precisam ser reafirmadas. O tempo pode ter passado, mas os dilemas fundamentais da civilização continuam nos interpelando. Relembrar abril de 1945, neste marco de oitenta anos, é mais do que um exercício de memória: é uma convocação à lucidez. Porque a paz, como já aprendemos, não é uma conquista definitiva — é uma escolha que precisa ser renovada a cada geração.

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