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5 de agosto de 2016 às 17:45.

As reviravoltas políticas nos últimos 34 anos (I)

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Do ponto de vista eleitoral, o processo de redemocratização do Brasil se dá objetivamente em 1982, quando, ainda em pleno Regime Militar, se estabelece a volta das eleições diretas para governadores, durante o governo João Figueiredo. Evidente que Importantes fatos políticos ocorreram ainda no governo Geisel, na chamada abertura “lenta, gradual e segura”. Se Geisel foi o responsável por extinguir o AI-5 e preparar o terreno para o retorno dos exilados, João Figueiredo o efetivou.

Se você acha que os acontecimentos políticos que estão em curso – alianças desfeitas e novas alianças – são novidades, está enganado, faz parte da cultura política baré, que não mantém padrões de coerência e compromissos, inclusive partidários. Agora se os desdobramentos favorecerão A ou B, só o processo eleitoral da disputa que o correrá, dirá se as decisões tomadas pelos atores políticos foram acertadas.

Só ingênuos e desconhecedores da história política local, poderia estranhar o redesenho que hoje ocorre para a disputa eleitoral que se avizinha.  Seria de se estranhar se a viagem transcorresse em mar de calmaria. O estranho hábito de trair ou romper com o seu aliado para sobreviver politicamente está no DNA dos políticos do Amazonas. Vamos à história:

No dia 15 de novembro de 1982, o Amazonas foi às urnas escolher o governador, um senador, oito deputados federais, 24 deputados estaduais e 21 vereadores. Naquele ano o número de eleitores que participa do processo eleitoral, foi de 401.000 eleitores. Gilberto Mestrinho (PMDB), que em 1956, aos 30 anos, foi o mais jovem prefeito de Manaus e governador eleito em 1958, obtém 53,7% dos votos válidos e ganha a eleição para governo do Estado do Amazonas, derrotando o jovem Josué Claudio de Souza Filho (PDS), representante do establishment. Naquela eleição surge o PT, tendo como representante o professor de Filosofia Osvaldo Gomes Coelho, que obtém 1,4% dos votos, superando o ex-governador Plinio Ramos Coelho (PTB), com 1,1% dos votos.  É aqui, ancorado na figura de Gilberto Mestrinho, que começa o novo ciclo da política amazonense, a nova matriz do comportamento político baré e o surgimento das novas lideranças, até os dias atuais.

Naquela eleição, das oitos cadeiras de deputados federais em disputa, o PMDB elegeu quatro e o PDS as outras quatro. O destaque vai para a eleição de Carlos Alberto De’Carli, que se elege com a maior votação proporcional obtida por um deputado federal no Amazonas, com 96.383 votos de 401.000 eleitores, ou 36,8% dos votos dos amazonenses, mais de 1/3 de todos os votos dados a todos os candidatos. Artur Neto, também, do PMDB, foi eleito em quarto lugar, com 9,0% dos votos válidos.

Outro fenômeno das urnas foi Fábio Lucena, que se elege senador com 186.448 votos, ou 51,1% dos votos válidos, numa disputa que contou com 12 postulantes, fato que quase ninguém recorda. Sua votação foi superior a do segundo colocado na disputa para o governo do Estado, Josué Filho, que teve 164.190 votos. Destaque-se que Fábio Lucena (MDB), no pleito de 1978, já havia sido o candidato ao senado mais votado, mas a regra eleitoral vigente – voto de legenda – o privou da vitória por apenas 228 votos, consagrando o segundo colocado, João Bosco Ramos de Lima(ARENA). João Bosco faleceu prematuramente e pouco usufruiu do mandato (fevereiro/maio de 1979). Com a vacância do cargo assumiu a suplente Eunice Michiles, a primeira mulher a assumir o Senado Federal.  Também convém lembrar que esse pendor mudancista do eleitor amazonense já havia sido manifestado na eleição para o senado em 1974, quando o candidato Evandro das Neves Carreira (MDB), suplantou o candidato da Arena, Flávio da Costa Brito, obtendo 60,3% dos votos.

De volta a eleição de 1982, Átila Lins, figura pública que frequenta a política amazonense ininterruptamente há 34 anos, se elege deputado estadual. No mesmo ano se elege vereador pelo PDS, com 2.992 votos, Carlos Eduardo de Souza Braga.

Em 1982, os atuais senadores Omar Aziz e Vanessa Grazziotin ainda não disputavam cargos eletivos, mas já militavam no movimento estudantil na Universidade do Amazonas. Vanessa era presidente do Diretório Universitário e Omar dirigente do Centro Acadêmico de Engenharia.

Em 1983, Gilberto Mestrinho lança o nome de Amazonino Mendes, um calouro na política partidária, para prefeito biônico de Manaus. Naquele episódio Amazonino foi aprovado pela Assembleia Legislativa com a menor margem de votos possível, por muito pouco sua meteórica carreira poderia ter sido abortada por um único voto.

A primeira reviravolta no tabuleiro ocorre exatamente na Assembleia Legislativa, quando a deputada Beth Azize do PMDB, derrota o candidato de Gilberto Mestrinho, ao ser escolhida presidente da ALE, com os 11 votos da bancada do PDS. Aqui é o marco zero das pernadas locais.

Em 1985, quando o processo de redemocratização engatinhava, indicado pelo governador Gilberto Mestrinho, Manoel Henriques Ribeiro, vice-governador de Gilberto, se candidata a prefeito pelo PMDB e, com 57,7%, derrota Amine Lindoso, candidata do PDS e esposa do ex-governador José Lindoso, que obteve apenas 20,7% dos votos, uma diferença folgada de 37%. Naquela pugna eleitoral o PT se fez representar pelo professor Aloysio Nogueira de Melo que conquistou um bom desempenho com 12,5% dos votos válidos. Esta eleição é a última pá de cal nas oligarquias governistas e subservientes aos coturnos dos militares.

 

 

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