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6 de dezembro de 2017 às 09:30.

IDD: Loteria do Estado do Amazonas (Série 1960)

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No dia 4 de fevereiro de 1965, o governador do Amazonas Arthur César Ferreira Reis (29/06/1964 a 31/01/1967) reuniu-se, em Palácio Rio Negro, com secretários de estado, parlamentares e titulares de órgãos federais. O chefe do Executivo relatou as atividades realizadas por ocasião da sua viagem ao Rio de Janeiro e ressaltou que o ministro da Fazenda, Octávio Gouvêa de Bulhões após exposição que lhe foi feita, autorizou o funcionamento da Loteria do Estado. O projeto já havia sido aprovado e transformado em lei e os seus recursos destinar-se-iam a construção do estádio Vivaldo Lima.

Na audiência com o presidente da República, o governador tratou de problemas de ordem geral, ocasião em que o presidente Castelo Branco demonstrou toda a sua boa vontade em ajudar o Amazonas. Através de mensagem enviada à Assembleia Legislativa, o governo do estado solicitou abertura de crédito de cem milhões de cruzeiros para a compra de equipamentos necessários à instalação da Loteria do Estado, que passaria a funcionar no prédio ocupado pela Transportamazon, na Praça Oswaldo Cruz, nº 31, antiga estação dos bondes.

Em 22 de junho, o Diário Oficial do Estado publicou as nomeações feitas pelo governador Arthur Reis, para o quadro dirigente da Loteria Estadual: diretor presidente, coronel Pedro Nolasco Penafort; diretor tesoureiro, capitão Lisboa e diretor gerente, José Augusto Mitoso Primo.  O material adquirido no Sul do País (três toneladas), por meio de concorrência pública para o Serviço de Loteria do Estado do Amazonas-SLEA, chegou em 18 de agosto de 1965, trazido pela empresa Paraense Transporte Aéreos.

Para coordenar os trabalhos de montagem da aparelhagem da Loteria Esportiva, que custou 60 milhões de cruzeiros, veio para Manaus o Sr. Agenor Ferreira de Alcântara, sócio da firma Artefatos de Metais Brundo Ltda., vencedor da concorrência pública, realizada pela Secretaria de Economia e Finanças.

As extrações seriam feitas semanalmente e totalizariam, entre pequenos e grandes prêmios, 21 milhões de cruzeiros, sendo o prêmio maior no valor de cinco milhões de cruzeiros. Essa extração se denominava Plano G. A outra modalidade era chamada de Plano L, essa corria somente no dia 23 de dezembro, com 1.144 prêmios, totalizando 28 milhões. A logomarca da Loteria Estadual era um trevo de quatro folhas.

A inauguração das instalações da Loteria Esportiva foi antecipada do dia 28 para o dia 14 de outubro, a fim de possibilitar a venda de bilhetes para a sua primeira extração. No mesmo dia (14), deu-se início a venda de dez mil bilhetes. Coube a Papelaria Velho Lino – única empresa a se apresentar para a modalidade licitatória -, confeccionar os bilhetes e os listões da loteria.

A primeira extração da Loteria Esportiva aconteceu no dia 28 de outubro, dia do Funcionário Público, data também escolhida para o sorteio, através da Loteria Esportiva, de 24 casas do Montepio dos Servidores Municipais. As casas foram construídas ao lado do Asilo Dr. Thomas e entregues em dezembro, quando os sorteados tomaram posse. Os sorteios foram realizados no auditório do prédio da Loteria Estadual, construído com essa finalidade. Uma grande massa popular compareceu na manhã de inauguração e, numa demonstração de interesse no propósito da loteria, comprou inúmeros bilhetes.

Embora simples, o mecanismo de extração era dos mais modernos, constante, entre outras peças, de dois globos de vidro, movendo tudo automaticamente, dentro de um amplo quadrado envidraçado.

Os cinco primeiros contemplados no sorteio das casas construídas pelo Montepio dos Servidores Públicos Municipais foram: José Pacheco Nonato, José Pereira Martins, José Miguel Arruda, Raimundo Nonato de Souza e Antônio Anastácio Cavalcante.

Menos de um ano depois, em maio de 1966, foi descoberto um “rombo” de dezenove milhões de cruzeiros na Loteria Esportiva, envolvendo o diretor gerente, José Mitoso Primo, responsável pelo controle da receita lotérica. Aproveitando-se da ausência de Pedro Penafort, presidente da loteria, que se encontrava no Rio de Janeiro. Mitoso, que já teria desviado quatro milhões de cruzeiros da Drogaria Fink, quando trabalhava como balconista, encontrava-se desaparecido desde o dia 27 de abril, quando o “rombo” do “maior estouro do ano” foi descoberto. A família informou que ele teria saído de casa com um revólver e uma caixa de balas para dar fim a sua vida, mas a polícia não aceitou nessa versão.

Como nomear alguém com esses antecedentes? A verdade é que a direção da Loteria reconheceu, constrangida, que desconhecia os antecedentes do funcionário. O major coronel Manoel Lopes Lisboa, da Polícia Militar, requisitado para prestar serviços na loteria, como tesoureiro chefe, declarou que Mitoso era um ótimo servidor e um auxiliar muito esforçado e fez questão de dizer que o Coronel Penaforf, presidente da Loteria, também teria feito o mesmo juízo.

É óbvio que os dirigentes ficaram preocupados com a repercussão do desfalque e fizeram questão de afirmar que esse episódio não alteraria o funcionamento regular dos serviços lotéricos, pois todos que jogassem e fossem premiados receberiam seus prêmios. Restaria a Loteria aplicar suas reservas bancárias na cobertura das cotas de quem tivesse direito no estádio Vivaldo Lima, conforme disposto na lei aprovada na Assembleia Legislativa. Não seria, portanto, o desfalque que comprometeria o programa de financiamento da sua construção.

Imediatamente após o ocorrido, o governador em exercício, deputado Ruy Araújo, encaminhou ofício ao secretário de Fazenda, Sr. Danilo Mattos Areosa, determinando que a arrecadação da Loteria do Estado, passasse a ser depositada diariamente no Banco do Estado do Amazonas, a fim de salvaguardar os seus interesses dali por diante.

Em fevereiro de 1967, já na gestão de Danilo Areosa, os senhores Antônio Tuma e Luciano Muelas, propuseram arrendar a Loteria Esportiva pela importância de vinte mil cruzeiros novos mensais, com direito a explorar o jogo do bicho e um bingo. O documento foi despachado ao secretário de Interior e Justiça para se manifestar, mas o pleito não prosperou.

Em setembro do mesmo ano o governador Danilo Areosa afastou os diretores e funcionários envolvidos em falcatruas e nomeou Teóphilo Marinho Filho e o diretor administrativo, Eduardo Donald, enquanto escolhia a nova diretoria. Quando enfim a nova diretoria foi nomeada, teve a seguinte constituição: diretor presidente, o interventor Teóphilo Marinho Filho; diretor tesoureiro, Eduardo Donald e diretor administrativo, Clynio de Araújo Brandão.

Em novembro de 1967, Danilo Areosa determinou que os bilhetes da Loteria Estadual também fossem vendidos no interior do estado e Itacoatira foi a primeira cidade a ser contemplada.

Em novembro de 1968, a Loteria Esportiva funcionava dentro da completa normalidade, tudo indicando que o Amazonas teria o seu estádio de futebol dentro de pouco tempo. O estádio tinha recursos provenientes da Loteria do Estado e o que havia recebido da indústria de guaraná Magistral, da Importadora de Bebidas e Estivas Ltda. (agentes do Norte) e da Brahma Chopp – que contribuiria com trinta centavos por grade de cerveja vendida para o estádio.

Para impulsionar as vendas de bilhetes e, consequentemente, o andamento das obras do estádio, a Loteria Esportiva passou a usar a imagens de craques do futebol amazonense, com Santarém, grande artilheiro do São Raimundo Futebol Clube e os irmãos Piola – Edson, Antônio e Zequinha – do Nacional Fast Clube.

Em novembro de 1972, a Loteria Esportiva encerrou suas atividades e dividiu opiniões: para muitos apostadores o motivo foi a má gestão; para outros, o cumprimento do objeto de sua criação; houve também que atribuísse o seu fim a chegada da Loteria Esportiva da Caixa Econômica Federal, a “loteca” – regulamentada no Brasil em 25 de março de 1970 e realizada desde 19 de abril. Para os aficionados que gostavam de fazer uma “fezinha”, o fechamento foi precipitado, esses entendiam que, com uma melhor programação, sobretudo com o aumento nos prêmios, não precisaria fechar.

O período de construção do estádio Vivaldo Lima foi de 1958 até 1970, o “Tartarugão” ou “Colosso do Norte” foi inaugurado no dia 5 de abril de 1970, com dois jogos: Seleção Brasileira B X Seleção Amazonense B e Seleção Brasileira A x Seleção Amazonense A. Nas duas partidas a Seleção Brasileira venceu por 4 a 1.

Seu fechamento ocorreu em julho de 2010, sendo logo demolido, dando vez a construção da Arena da Amazônia. A Arena foi inaugurada em 9 de março de 2014, com o jogo entre Nacional x Clube do Remo, o resultado foi o empate em 2 x 2.

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