Manaus já recebeu muitos visitantes ilustres. No decênio de 1960, aqui estiveram personalidades nacionais e internacionais, cada qual com o seu propósito. Citamos enfim algumas para registro histórico. Foram visitas de cunhos: político, turístico, oficial, não oficial, escala, pernoite e até uma que se pretendia anônima.
Então, a primeira delas data de 12 de janeiro de 1960. Quando o então avião DC-3 dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, aterrissou em Manaus trazendo a bordo o Sr. Jânio Quadros e sua numerosa comitiva. O ex-governador de São Paulo, na ocasião desfrutando do então mandato de deputado federal, estava em plena campanha eleitoral pela presidência do Brasil. Seu percurso iniciou no dia 9 de janeiro e tinha o término previsto para o dia 25 do mesmo mês, o que totalizaria, ao final, 8.565 quilômetros de viagem somente por via aérea. Era sua primeira visita ao estado do Amazonas e, por mais estranho que possa parecer, não havia agenda política preestabelecida.
Os comícios e encontros ocorreriam ao sabor das manifestações populares, coisa que não ocorreu. Assim, naquela ocasião, o candidato da União Democrática Nacional-UDN apenas pernoitou na capital amazonense. Mas ficou a promessa de retorno ao Amazonas no mês de fevereiro, quando entraria em contato “mais estreito” com o eleitorado amazonense, ocasião em que ele permaneceria por cinco dias, inclusive com visitas a municípios do interior.
Jânio não veio em fevereiro, mas em 21 de setembro, a doze dias da eleição direta para a presidência da República, agora tendo o apoio de três outros partidos – PDC, PTN e PL – coligados a UDN, teve uma recepção “de livre vontade” apoteótica. Uma multidão de adeptos e admiradores o cercou desde a pista de pouso, políticos o abraçaram e todos receberam dele um sorriso “franco e espontâneo”. Foi aplaudido por todo o trajeto percorrido por seu carro, até a sua chegada ao então Colégio Estadual do Amazonas.
Na então Praça Adalberto Vale, ao lado do Hotel Amazonas, onde se hospedou, uma multidão gritava e sacudia vassouras, símbolo de sua campanha. Da sacada do hotel, Jânio saudou o povo, anunciou a certeza da vitória, pois era um “movimento espontâneo nascido e se formado no seio do próprio povo”. No comício realizado na Avenida Getúlio Vargas com a Rua Leonardo Malcher, dirigiu-se ao povo expondo as bases programáticas de seu futuro governo.
No dia 7 de março de 1962, aportava em Manaus, procedente de Santarém, o ex-rei da Bélgica, Leopoldo III – o rei havia abdicado em favor de seu filho, o príncipe herdeiro Baudoin -, acompanhado de Sua Alteza Real, a princesa Lilian. A visita a capital amazonense era de caráter estritamente pessoal, uma excursão de turismo. Mas a astúcia do governador em exercício, Joel Ferreira da Silva, achou por bem fazer as honras da casa e acomodar a realeza e sua comitiva, nas dependências do Hotel Amazonas. Evidentemente o governador investia nas possibilidades de negócios que a região oferecia. Entretanto, o investimento não passou de despesas para os cofres públicos, uma vez que, àquela altura, as preocupações mais absorventes do ex-soberano, agora eram outras, que se resumiam a viagens e expedições, especialmente as que incluíam alpinismo.
No último dia de agosto de 1962, um avião especial da Força Aérea Americana chegou ao Aeroporto de Ponta Pelada, trazendo o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Sr. Lincoln Gordon. O representante do governo americano no Brasil, acompanhado de 18 membros da Embaixada, incluindo os adidos militar e cultural, foi recepcionado pelo governador Gilberto Mestrinho. Aqui permaneceu por quatro dias e, rigorosamente, nada de relevante veio tratar. Por ser o representante máximo do chefe de um Estado junto a outro Estado, apenas cumpriu encontros protocolares, depois sua programação foi exclusivamente turística, incluindo visita ao Teatro Amazonas, Cidade Flutuante. Também singrou as águas do rio Negro, em lancha do governo.
No dia 29 de outubro de 1964, o Sr. Carlos Lacerda, governador da Guanabara, passou três horas em solo manauara. Vindo de Cuiabá e viajando em um avião particular, estava visitando todos os Diretórios Regionais da União Democrática Regional – UDN, para um contato prévio com os seus membros e com os convencionais, que iriam representar as secções do partido na Convenção Extraordinária da UDN, prevista para o dia 7 de novembro, em São Paulo. A Convenção deliberaria sobre a escolha do candidato do partido para as eleições presidenciais de 1966. Carlos Lacerda pleiteava a sua indicação como candidato do partido, motivo pelo qual viera a Manaus. Aqui foi recebido pelo governador Arthur Reis. Do aeroporto foi para a sede da UDN, na Rua Rui Barbosa.
Em seu discurso, Carlos Lacerda externou como necessária uma campanha prolongada, pois não cabia ao candidato “monologar sobre o que vai fazer, mas, na realidade, aprender em contato com o povo de todo o País, aquilo que é preciso fazer”. Há técnicos de tudo, disse ele, faz-se necessário que um homem que se prepara para a presidência da República torne-se técnico em Brasil. “Além disso, é preciso assegurar a continuidade da Revolução através de eleições diretas, na data marcada” (A Crítica, 30 de outubro de 1964).
Em 26 de outubro de 1965, o ilustre visitante foi o pesquisador Roldão Pires Brandão, presidente da Associação Brasileira de Arqueologia e o primeiro homem a atingir o topo do Pico da Neblina; conquista obtida em sua terceira tentativa, depois de dois fracassos anteriores. O feito ocorreu no dia 13 de setembro, numa expedição por ele chefiada, mas orientada por índios das Missões Salesianas do Alto Rio Negro, que durou cerca de dois meses. Roldão lá chegou acompanhado por três índios dos sete que os padres das Missões Salesianas lhe recomendaram e lhe entregaram para que o acompanhassem. O monte que está a 160 metros da linha divisória do Brasil com a Venezuela, era considerado pela Comissão Demarcadora de Limites como inacessível.
No dia 19 de setembro de 1966, o presidente Humberto de Alencar Castelo Branco passou a tarde e a noite em Manaus. Assim que chegou ao aeroporto de Ponta Pelada, o presidente foi conduzido ao Palácio Rodoviário, onde teve uma entrevista com o governador Arthur Reis. Também houve audiência, em Palácio Rio Negro, com o com o recém-eleito governador, Danilo Areosa e seu vice, Ruy Araújo. Depois o presidente visitou residências e casas populares. No dia seguinte o presidente seguiu viagem com destino a Boa Vista.
Castelo Branco, que em 27 de outubro de 1966 havia sancionado a Lei nº 5.174, dispondo sobre a concessão de incentivos fiscais em favor da Região Amazônica, em 3 de dezembro, voltou a capital amazonense para inaugurar a Escola de Serviço Público do Estado do Amazonas – ESPEA. Instalou o Encontro de Investidores, no Teatro Amazonas, e inaugurou o Instituto de Pesquisas Rodoviárias do DER-Am.
Poucos dias depois da vinda do presidente Castelo Branco, desembarcou no aeroporto de Ponta Pelada, “sigilosamente”, a Sra. Terezinha Morango Pitigliani, ex-miss Brasil de 1958, escolhida no mesmo ano, no concurso em Long Beach, a segunda mulher mais bela do mundo. Em entrevista concedida ao colunista social Epami, Terezinha disse que veio ao Amazonas fugindo de publicidade e somente para rever os parentes. Ela não queria terminar o ano de 1966, sem vê-los.
No dia 11 de maio de 1967, quem aterrou por aqui foi o Sr. Donald M Kendall, presidente da PepsiCo. Inc., organização à qual pertence a Pepsi-Cola, que naquele ano já contava com centenas de filiais e fábricas em 108 países. Manaus era o primeiro ponto de sua visita ao Brasil. O então propósito de sua vinda era contatar com as fábricas do Brasil e a vida política e econômica do País.
Sua visita também tinha como objetivo prospectar futuros investimentos, entre os quais incluía três novas fábricas. Apesar da agenda profissional, a escolha de Manaus como primeiro estágio de sua viagem, era enfim, realizar um de seus antigos sonhos, que incluía conhecer o Amazonas e, especialmente, o Teatro Amazonas e seringais. O presidente e sua comitiva foram recebidos pelo comendador José Cruz, empresário proprietário da fábrica de refrigerantes Magistral, que produzia e distribuía os produtos Pepsi-Cola para a região amazônica.
No dia 7 de agosto de 1968, Arthur da Costa e Silva, esteve em Manaus. Aqui teve audiências com o governador Danilo Areosa e com as classes empresariais e trabalhadoras e na Assembleia Legislativa recebeu o título de Cidadão do Amazonas. Fez parte da programação, ainda, visita ao então Centro de Instrução de Guerra na Selva – CIGS e a inauguração do ginásio Castelo Branco.
Em junho de 1969, a capital amazonense acolheria a visita do embaixador da República Árabe Unida (RAU), Sr. Ahmed Farid Aboushady. O Sr. Ahmed foi homenageado pela comunidade árabe do Amazonas com um almoço no balneário do Clube Sírio Libanês, no bairro da Chapada. O Sr. Ahmed, pelas mesmas razões do embaixador americano, Lincoln Gordon, em 1962, até se encontrou com o governador Danilo Areosa. Mas a tônica de sua passagem por Manaus limitou-se a conversas informais com seus compatriotas, passeios e visitas a pontos turísticos. Agradecendo a acolhida da comunidade árabe, disse “nunca haver imaginado uma recepção como a que recebeu”. Enquanto aqui permaneceu, o embaixador hospedou-se no Hotel Amazonas.
Fonte: IDD