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Os festivais, a esperança de um novo tempo e as dublagens

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Além da Bossa Nova e do movimento Jovem Guarda, os anos 1960 trouxeram consigo os grandes festivais de música popular brasileira. Coube a extinta TV Excelsior, em 1965, dar o pontapé inicial àquela era, com a realização do I Festival de Música Popular Brasileira. Na edição saiu-se vitoriosa a música “Arrastão“, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, interpretada por Elis Regina. No ano seguinte acontece o Festival Nacional de Música Brasileira, sagra-se campeã a música “ Porta-Estandarte”, de Geraldo Vandré e Fernando Lona, defendida por Tuca e Airto Moreira.

No mesmo ano a Record realiza o II Festival de Música Popular Brasileira. Nos anos subsequentes realizou o III, IV e V festivais, além da I Bienal do Samba. A TV Rio, em 1966, realiza o I FIC, Festival Internacional da Canção. A partir do II e até o VII, já nos anos 1970, a Rede Globo assumiu as suas realizações. Foram nesses festivais que despontaram Elis Regina, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, MPB 4, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes, Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Tom Zé, Chico Buarque e outros mais.

No Amazonas, o intelectual Arthur César Ferreira Reis assume como o primeiro governador do Amazonas indicado pelo Regime Militar (1964/1967). Conhecido como o “Velho Reis” e o “Amigo das Artes”, promove mudanças administrativas e culturais de relevância, com destaque para o Festival do Cinema, Festival de Música e Feira do Livro. Arthur Reis muito se empenhou nas questões relacionadas à Amazônia e no incentivo a publicação de obras de autores amazonenses. Foi um dos mais produtivos e importantes historiadores da Amazônia, suas obras sobre a região amazônica são imprescindíveis para quem pretende estudá-la.

Foi ele quem desfraldou, como poucos, a bandeira da não internacionalização da Amazônia, também encomendou ao poeta e compositor Áureo Nonato, uma música cuja letra mudasse o conceito que os brasileiros tinham desta região e estimulasse o povo daqui a se orgulhar da cidade, da sua origem e da sua identidade. Em 27 de junho de 1965 deu-se o lançamento da música Canção de Manaus: “Quem viu você, não pode mais esquecer/ quem vê você, logo começa a querer; Manaus, Manaus, Manaus minha cidade querida…”.

Paralelo às mudanças que Arthur Reis promovia na área cultural, em meados de 1964 deu-se início, em Manaus, a um período em que a dublagem caiu nas graças dos citadinos. Atingiu seu ápice em 1965 e 1966, com as realizações de dois festivais, o 1º em 18 de setembro de 1965 e o 2º no dia 24 de setembro de 1966, ambos durante a semana do Rádio. A manifestação começou como uma brincadeira, depois virou febre e se profissionalizou: o artista escolhia o cantor, a música, criava uma coreografia, ensaiava em frente ao espelho de casa até atingir a perfeita sincronização entre mímica e voz; confeccionava uma roupa especial e se apresentava, profissionalmente, nas festas dos principais clubes de Manaus, nas rádios e televisão.

A dublagem tinha boa aceitação popular, em grande parte por uma questão conjuntural. O empresariado local experimentava a escassez de recursos financeiros e, consequentemente, falta de liquidez. Exatamente o que hoje a recessão econômica brasileira nos impõe.  Isso os impedia de trazer artistas nacionais, assim, eram eles, os dubladores profissionais, que preenchiam a ausência dessas atrações.

O dublador era aquele artista que, com muito capricho, substituía o titular da obra, ora teatralizando ora caricaturando sua apresentação. Os mais talentosos eram: Eline Santana, Salim Gonçalves, Conrado Silva, Almir Silva, Delfim Sá, Wilson Campos e Ednelza Sahdo. A essa última artista coube, com muita felicidade, pôr termo a arte de dublar: “ um “teatro musicado”.

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