Os apelos por cessar-fogo, tréguas ou negociações soam cada vez mais vazios diante de um mundo que parece ter perdido o sentido do inaceitável. Conflitos como os de Gaza, Ucrânia, Sudão e Síria escancaram a naturalização da barbárie. Atrocidades antes inomináveis assassinatos de civis, mutilação de crianças, uso sistemático da fome e do estupro como armas tornaram-se recorrentes. A brutalidade deixou de chocar. O horror passou a ser administrado, não combatido.
O mundo vive um esgarçamento moral. A ordem internacional baseada em princípios universais de direitos humanos dá lugar a alianças oportunistas, justificativas políticas e conveniências ideológicas. O que antes era inegociável como a proteção de vidas inocentes hoje é relativizado por interesses nacionais ou pela lógica da guerra sem fim.
O Brasil, nesse cenário, não é exceção. A indiferença diante da corrupção que esvazia o Estado, da morte sistemática de jovens nas favelas e da escalada da violência urbana também revela um país dessensibilizado. Balas perdidas, chacinas, desvio de verbas públicas, esquemas criminosos dentro das instituições tudo isso ocorre sob o manto de uma normalidade perversa. Há silêncio. Há aceitação.
A ética cedeu lugar à conveniência. A crítica deu espaço à polarização. E a moral pública transformou-se em objeto de disputa não mais de consenso. Quando uma sociedade fecha os olhos para os seus mortos e naturaliza o roubo do bem comum, ela abandona o próprio pacto civilizatório.
Não se trata apenas da ausência de líderes comprometidos com a justiça e com a paz. Trata-se da abdicação coletiva de princípios. A paz deixou de ser um projeto político, e a moral, um referencial comum. Sem isso, restam a coerção, a mentira e o cinismo institucionalizado.
A restauração de um mínimo ético exige mais do que boas intenções. Requer enfrentamento: à violência banalizada, à corrupção sistêmica, à linguagem que camufla a barbárie, ao silêncio conveniente. É preciso reafirmar a dignidade humana como centro da vida pública seja diante das ruínas de Gaza, das ruas do Rio ou dos corredores do poder.