Terminada a “surra“, a PM divulgou o saldo da manifestação, contabilizando pessoas detidas, o major internado e dez policiais feridos, mas omitindo qualquer informação a respeito dos manifestantes feridos. Cerca de trinta estudantes foram detidos pela PM durante a repressão. Encaminhados ao DOPS, após triagem, dez deles permaneceram presos para investigação.
No dia seguinte, a Associação Profissional das Empresas de Transportes de Passageiro do Estado do Amazonas (Apetram) envia à imprensa uma nota de “esclarecimento ao público“, contendo sete itens, entre os quais a denúncia de que “elementos nocivos ao interesse do povo, empunhando bandeiras de ideologias que não coincidem com o desejo popular” teriam usado a categoria estudantil como massa de manobra para destruir cerca de setenta ônibus e causar vítimas leves e graves.
A nota nomina “os elementos” João Pedro Gonçalves da Costa, João Paulo Vieira de Oliveira, Eronildo Braga Bezerra, Francisco Sávio Vieira de Oliveira, Ana Regina Rego Gama, Luiz Sandro B. de Oliveira e George Tasso Lucena Sampaio Calado como sendo “os responsáveis diretos pelos atos criminosos“, ameaçando-os com processos criminais (A Crítica de 22 de setembro de 1983).
Numa linha menos hostil às manifestações, o Jornal do Commercio publica reportagem com espaço para as declarações do deputado estadual Humberto Michiles (PDS), de que o manauara passara a pagar “a passagem de ônibus mais cara do Brasil, superior inclusive à de São Paulo, cujos percursos são bem maiores“. Na versão de Michiles, foi Amazonino quem teria iniciado a agitação durante as manifestações, “mandando os passageiros, na impossibilidade de possuir os Cr$ 10,00, pagar apenas Cr$ 100,00 pela passagem de ônibus“.
A matéria traz ainda declarações de outros deputados de oposição ao governador Gilberto Mestrinho, criticando governo e prefeitura. “Não se pode admitir, em hipótese alguma, que os custos operacionais das empresas de transporte coletivo de Manaus sejam superiores aos de São Paulo, Rio de Janeiro e outros Estados da Federação, pois aqui existem isenções do ICM, UPI etc., devido à Zona Franca de Manaus“, ponderou Cleuter Mendonça. (Jornal do Commercio de 22 de setembro de 1983, p.05).
Em contraste, A Notícia publica editorial intitulado “Protesto ou baderna?“, recorrendo a termos como “ilegais“, “atrevimento“, “afronta” e “banditismo” para demonizar os manifestantes. O editorial acusa a UESA de ser um “órgão de representação estudantil extinta e não reconhecida pelo MEC“. E, em contrapartida, elogia a repressão promovida pela polícia, em especial o trabalho realizado pelo DOPS. “O caso atual é de baderna, a que os jovens estudantes na sua maioria estão sendo insuflados, e não de protesto às dificuldades atuais de uma crise mundial que, naturalmente, nos alcança a todos, problemas vários” (A Notícia de 22 de setembro de 1983, p.02).