A ideia de “sair do Brasil” passou a ocupar um espaço curioso no cotidiano do brasileiro. Não aparece mais apenas como plano pessoal ou decisão radical, mas como uma frase solta, quase automática, usada para traduzir cansaço, impaciência e desencanto. Os dados do Observatório FEBRABAN, de dezembro de 2025, ajudam a entender por quê. O que eles mostram não é um país prestes a esvaziar-se, mas uma sociedade que manifesta, de forma recorrente, um profundo desconforto com a própria realidade.
A percepção sobre a imagem do Brasil no exterior é reveladora. Apenas 36% acreditam que o país é visto de maneira mais positiva fora de suas fronteiras. Outros 32% enxergam essa imagem como negativa. Não há hegemonia de visão, apenas divisão. Mais significativo ainda é o fato de que 64% dos entrevistados afirmam que brasileiros não são sempre bem recebidos no exterior. O resultado é um paradoxo incômodo: o “lá fora” é visto como modelo de organização e funcionamento, mas não como espaço de acolhimento.
Esse dado desmonta a leitura apressada de que o desejo de sair do Brasil seria apenas econômico. Não se trata, majoritariamente, de fome, desemprego ou miséria. O que pesa é outra coisa: a falta de previsibilidade, a instabilidade das regras, a sensação persistente de que esforço e planejamento não garantem futuro. Muitos dos que dizem querer ir embora não vivem mal. Vivem, isso sim, com a impressão de que o país não responde. Por isso, “sair do Brasil” funciona mais como linguagem do que como estatística. É uma forma de crítica indireta, um gesto simbólico de afastamento diante de instituições frágeis, decisões erráticas e promessas que raramente se cumprem. Não há sinal de êxodo iminente. O que existe é um mal- -estar contínuo, que se expressa em frases repetidas, em comparações constantes e na ideia persistente de que, em algum outro lugar, a vida talvez seja menos improvisada.
Enquanto esse sentimento permanecer, a vontade de ir embora continuará circulando. Não como projeto coletivo, nem como movimento organizado, mas como sintoma de um país que ainda não conseguiu oferecer ao seu próprio cidadão a sensação básica de estabilidade e horizonte.