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8 de março de 2017 às 08:00.

A tropicália e a repressão do governo militar

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Em 1967, um marco na história da Bossa Nova e da música popular brasileira, Tom Jobim grava com Frank Sinatra o álbum americano “Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim”. Nele Sinatra interpreta sucessos da Bossa Nova, como Dindi, Garota de Ipanema e Corcovado, todos de autoria de Tom. O dado curioso do disco é que Tom o acompanha no violão e não no piano, seu instrumento favorito. Conta-se que Sinatra, por ciúme, não deixou que Tom o acompanhasse no piano, instrumento que mais prestígio dava aos músicos americanos.

No mesmo ano de 1967, em Manaus, ocorre “a 1ª Feira de Incentivo ao Desenvolvimento Econômico do Estado do Amazonas – FIDEA, um evento promovido pela recém-criada Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA, acontecimento que contou com o apoio do Governo do Estado, Prefeitura e Federação das Indústrias. Em uma área de 7.000m² na Rua José Clemente, no trecho da lateral do Teatro Amazonas, foram montados 130 stands a expor todos os produtos saídos das fábricas instaladas em território amazonense. Durante um mês, do dia 21 de maio a 20 de junho, entre as 18h:00min e 23h:00min, foram mostrados ainda, couros silvestres extraídos da imensa fauna amazonense e beneficiados em Manaus, e outros produtos comercializados na praça local.

A Feira trouxe atrações musicais especialíssimas: Agnaldo Timóteo, Zimbo Trio, Brazilian Beatles, Maritza Fabianni, Renato e seus Blue Caps e um Conjunto da Guiana Inglesa de nome Des Glasford and Combo 7. Os caras fizeram tanto sucesso com o som que extraiam dos camburões de ferro – especialmente com as músicas Only You e See You in September – que deixou a todos boquiabertos.

Não há registros em jornais ou em qualquer literatura Baré, mas os amigos Lúcio Bezerra de Menezes e Osvaldo Frota, moradores da Rua José Clemente, no dia seguinte ao referido show, “conseguiram” dois camburões “jogados” dentro da Santa Casa de Misericórdia e, misericórdia! Por dois dias, nos fundos da casa do segundo, “ensaiaram” exaustivamente. Não conseguiram arrancar o som desejado dos camburões, só o som irado vindo da vizinhança.

Ainda em 1967, acontece o primeiro e um dos mais importantes festivais da história da cidade, o Festival Estudantil de Música Popular Brasileira, evento organizado pelo Diretório Central dos Estudantes da Universidade do Amazonas, a UA, hoje UFAM. O festival teve três edições e trouxe shows de artistas nacionais, como Jards Macalé, Gilberto Gil e Chico Buarque.

O ano foi pródigo. A partir do Festival de Música Popular realizado pela TV Record naquele ano, surge o tropicalismo, movimento musical que teve enorme influência da cultura pop brasileira e internacional, além de correntes de vanguarda, como o concretismo. Também conhecido como Tropicália, inovou ao promover a mistura entre vários estilos musicais (rock, bossa nova, rumba, baião, samba, bolero, entre outros). Era um movimento de ruptura e sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira, especialmente a partir do lançamento do disco ‘Tropicália – Panis Et Circenses‘, em julho de 1968, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes, Tom Zé, além dos letristas José Carlos Capinam e Torquato Neto e o maestro Rogério Duprat.

Afora a música e a mensagem que trazia, alterou critérios vigentes, como:  comportamento, corpo, sexo, cabelo e vestuário. O movimento foi reprimido pelo governo militar e durou pouco mais de um ano (1967/1968). Eram músicas cujas letras tinham conteúdo poético, com críticas sociais e tratavam temas do cotidiano.

O nome pode ter surgido em um texto do crítico Nelson Motta, inspirado na obra Tropicália, do artista plástico Hélio Oiticica; ou, sob a mesma inspiração, dado por Caetano Veloso.

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