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Manaus em Tempo de Decisão: Ideologia, Rumos do Brasil e Avaliação das Lideranças na Capital

A Perspectiva Pesquisa e Opinião divulgou os resultados de sua mais recente pesquisa de opinião, realizada entre os dias 01 e 03 de dezembro de 2025, com o propósito de compreender, com precisão e atualidade, o ambiente político e social de Manaus em um momento decisivo para o Amazonas e para o Brasil. A aproximação de 2026 encontra uma cidade atravessada por expectativas altas, tensões políticas que se acumulam desde o último ciclo eleitoral e um eleitorado mais crítico em relação ao desempenho das autoridades, à qualidade dos serviços públicos e ao peso das desigualdades na vida cotidiana. Nesse cenário, tornou-se essencial investigar como os manauaras definem seu posicionamento ideológico, que caminhos consideram mais adequados para o país no próximo ciclo eleitoral e como avaliam figuras políticas centrais na capital, como o prefeito David Almeida. Ao mesmo tempo, questões estruturais — sobretudo a insegurança, a expansão do crime organizado e a percepção de desigualdade — aparecem como fatores que moldam a confiança nas instituições e ajudam a explicar o humor coletivo em relação ao futuro. A pesquisa oferece, assim, um diagnóstico consistente das percepções, angústias e preferências da população, permitindo identificar tendências, medir riscos e compreender melhor o comportamento do eleitor em um período marcado por incertezas e transformações. Os dados apresentados funcionam como subsídio para análises estratégicas, formulação de políticas públicas e tomada de decisão baseada em evidências.

Com amostra de mil entrevistas e margem de erro de 3,1%, o estudo revela um quadro complexo do sentimento político e social na capital. A fotografia captada no início de dezembro mostra um eleitorado cansado da polarização nacional, desconfiado das instituições e pressionado pela sensação cotidiana de insegurança. No eixo ideológico, a maioria se define como independente: 35% dos entrevistados afirmam não se identificar diretamente com os polos nacionais, superando tanto a direita bolsonarista, com 27%, quanto a esquerda lulista, com 17%. A esquerda não lulista soma 5%, enquanto a direita não bolsonarista alcança 14%. A força desse contingente independente e moderado revela um grupo eleitoral capaz de decidir rumos em 2026 e ajuda a explicar um sentimento dominante de busca por alternativas. Para 31% dos entrevistados, o melhor resultado para o Brasil seria a eleição de um candidato que não estivesse vinculado nem a Lula nem a Bolsonaro. Ainda assim, a pesquisa indica que o bolsonarismo continua mais mobilizado do que a esquerda: ele preserva peso relevante no eleitorado, somando 33% entre os que apoiam diretamente seu campo político e os que consideram possível um retorno de Bolsonaro, enquanto a esquerda mostra menor capacidade de ativação proporcional, registrando 18% entre os que preferem a reeleição de Lula e os que optariam por um nome apoiado pelo presidente. O recado do eleitorado, portanto, não é de alinhamento automático, mas de abertura real para novos caminhos e novas lideranças.

No plano local, a avaliação do prefeito David Almeida aparece como um dos pontos de maior desgaste. Para 61% dos entrevistados, as críticas à sua gestão são corretas ou “super corretas”, enquanto apenas 20% as consideram incorretas. Quando se testa a hipótese de candidatura ao governo do Estado, a rejeição cresce: 70% afirmam que não votariam nele, contra 20% que declaram voto. Esse resultado dialoga com um repúdio mais amplo à concentração de poder político, já que 75% avaliam como ruim para o Amazonas a possibilidade de um único grupo controlar prefeitura e governo. O retrato indica erosão de imagem do prefeito e sugere obstáculos relevantes para qualquer estratégia de continuidade política ancorada no mesmo grupo.

O tema da segurança pública desponta como uma das dimensões mais sensíveis da opinião popular. Para 65% dos entrevistados, a segurança em Manaus é ruim ou muito ruim, e a avaliação segue negativa quando se aproxima do cotidiano imediato: 53% consideram ruim a segurança no bairro e 42% na própria rua. A ausência do Estado aparece como elemento central dessa percepção, com 47% afirmando nunca ver polícia no local onde moram. O ritmo de resposta das forças de segurança reforça a sensação de abandono: somando regular, lenta e muito lenta, 80% avaliam negativamente o combate ao crime. Talvez o dado mais ilustrativo desse ambiente seja o fato de que dois em cada três manauaras dizem conhecer organizações criminosas atuando no próprio bairro, revelando uma cidade que convive com medo permanente e baixa confiança na capacidade estatal de proteger a população.

A desigualdade social completa esse quadro de pessimismo. Para 36%, Manaus é mais desigual que o restante do país, e a maioria identifica no poder público a raiz principal do problema: metade atribui a desigualdade à corrupção e à má gestão, enquanto 24% citam desigualdade econômica e outros 24% mencionam falta de educação e emprego. O horizonte futuro também é lido com desconfiança: 52% acreditam que a desigualdade vai aumentar nos próximos cinco anos. Essa percepção transborda para o campo institucional: 84% afirmam que a desigualdade enfraquece as instituições democráticas, sendo que 62% consideram esse enfraquecimento muito forte. Ao tratar de políticas sociais, o Bolsa Família aparece sob visão crítica, com 44% entendendo que o programa estimula dependência, contra apenas 14% que associam o problema à falta de políticas voltadas ao desenvolvimento econômico, o que reforça o traço conservador identificado no perfil ideológico da cidade.

A descrença no Estado se manifesta ainda na infraestrutura. Metade dos entrevistados afirma acreditar que a BR-319, rodovia fundamental para ligar Manaus a Porto Velho, jamais será concluída. A falta de confiança nessa promessa aparece como quase consensual e não muda de forma significativa entre diferentes posições políticas, o que ajuda a dimensionar o nível de frustração com compromissos públicos repetidos ao longo de décadas. No conjunto, a pesquisa desenha um eleitorado desiludido com a classe política, desconfiado da capacidade do Estado e inclinado a rejeitar candidaturas associadas a grupos tradicionais de poder. Em Manaus, cresce a demanda por alternativas menos capturadas pela polarização nacional e mais focadas em eficiência administrativa, combate à corrupção e enfrentamento real da crise de segurança. O cenário projetado pelos dados sugere que 2026 será um ano de oportunidades para novos nomes e, ao mesmo tempo, um terreno duro para quem já ocupa posições centrais no governo.

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