Ford poderia ter obtido gratuitamente a concessão de 1 milhão de hectares (equivalente ao tamanho da cidade de Goiânia) no estado do Pará, pois, em 1925, o governador Dionísio Bentes prometia doações a quem se dispusesse cultivar seringueiras. Villares se dispôs e assim conseguiu as suas terras.
O esquema de Villares envolvia políticos, diplomatas e funcionários do alto escalão da fábrica. Todos mancomunados imbuídos de um único propósito. Agarrar Ford não pela lucratividade do empreendimento. Mas sim por sua filosofia de levar a modernização para todo o planeta. Convencendo-o que ele poderia mudar o quadro social e econômico da Amazônia, devastada pelo fim da hegemonia
da produção de borracha. Foi com esse cenário inteiramente desconhecido por Ford, que ele enviou uma comitiva de funcionários ao Pará. Villares os aguardou e recepcionou. Seus planos foram cumpridos à risca, não lhe interessava mostrar outras propriedades senão as suas, distribuídas ao longo do Baixo Vale do rio Tapajós. Blakeley teria convencido Henry Ford de que produzir borracha no vale do Tapajós seria fácil, pois as sementes que originaram as plantações do Oriente vieram dessa região. Ele sugeriu que Ford estabelecesse sua plantation no berço natural das seringueiras. Essa hipótese se torna mais plausível ao notar que os técnicos enviados para a implantação da cidade e do seringal incluíam engenheiros, médicos, contabilistas e eletricistas, mas nenhum especialista em agricultura.
A Fordlândia, portanto, surgiu de um golpe aplicado pelo brasileiro Villares no americano Ford. Villares vendeu por 125 mil dólares, 1 milhão de hectares de terreno acidentado e impróprio para seringueiras, uma área que havia recebido gratuitamente do governo do Pará um ano antes. Além disso, o Rio Tapajós não era navegável para navios de grande porte durante quase seis meses do ano, o que impossibilitava o escoamento da produção de borracha nesse período. O terreno que Villares vendeu, onde Fordlândia foi fundada, definitivamente não era adequado para o cultivo de seringais. A outra metade da área de Fordlândia consistia em terras públicas, concedidas sem custos pelo governo do Pará. A imprensa nacionalista, tanto na capital do país quanto no Pará, criticou duramente essa concessão. Mesmo assim, o legislativo estadual ratificou a concessão em setembro de 1927.
Adquirida a terra localizada à margem direita do Rio Tapajós, na bacia do Rio Cupari, dentro dos municípios de Aveiro e Itaituba, numa comunidade denominada Boa Vista, o passo seguinte foi construir a cidade que iria dar suporte à plantation.
No ano seguinte, Ford enviou suprimentos e funcionários à Amazônia com a missão de criar um subúrbio americano no coração da floresta. Em dezembro de 1928, dois navios chegaram a Fordlândia – Lake Ormoc e Lake Farge – trazendo os componentes que estruturariam a nova cidade. O americano Einar Oxholm dirigiu os operários brasileiros na construção da então futura terceira maior cidade da Amazônia. A caixa d’água, símbolo da presença de Ford na região, veio dos Estados Unidos, montada e estrategicamente colocada em um local visível a todos que chegavam.
Fordlândia, primeira “cidade empresa” da Amazônia. Criada para garantir a produção dos grandes projetos, transformando a então realidade local, as relações de trabalho e a vida social. Rapidamente, construíram vilas para funcionários, administradores e visitantes. Além de luz elétrica, água encanada, restaurante, porto, hidrantes, depósitos, oficinas mecânicas, campo de futebol, igreja. Havia um hospital bem equipado, onde ocorreu assim, o primeiro transplante de pele no Brasil. A cidade também contava com piscinas e um cinema, refletindo assim, a crença de Ford de que “o lazer é uma parte essencial da economia”.
Fonte: IDD