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11 de agosto de 2024 às 18:00.

Henry Wyckham o cavaleiro do Império Britânico – Texto CXIV

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Em 10 de junho de 1876, o transatlântico SS Amazonas chegou a Liverpool. No dia 14 do mesmo mês, levando consigo uma pequena sacola com sementes. Henry chegou ao Royal Botanic Gardens de Kew, a então famosa instituição britânica com 250 anos de história no estudo da botânica. Lá, Joseph Hooker, diretor da secular instituição, o recebeu. Ele contou a Hooker sobre sua aventura na Amazônia e as 70.000 mudas de semente que havia trazido. Em 19 de junho, os primeiros brotos germinaram. Em 7 de julho, eles plantaram mais de 2.700 brotos que grelaram em vasos. O então jornal Evening Herald noticiou, em 20 de agosto, sem alarde, que “uma boa quantidade deles começou a crescer imediatamente. E muitos atingiram a altura de 45 centímetros em poucos dias”.
Eles enviaram as árvores de Wickham de Kew para o Ceilão (atual Sri Lanka), Cingapura, Malásia, Índias Orientais Holandesas (atual Indonésia), Indochina (região que hoje corresponde ao Vietnã, Laos e Camboja) e outras regiões. Em 1882, a Hevea começou a produzir sementes no Ceilão. Em 1893, eles venderam 91.000 sementes a cinco rupias o milheiro e, em 1898, o Ceilão exportou 434 quilos de sementes.
No fim da década de 1890, não pairavam mais dúvidas sobre a Hevea brasiliensis. Plantar em solo encharcado, por exemplo, comprovou-se ser um erro e o espaçamento inicial de 350 árvores por hectare, revelou crescimento mais rápido. Os métodos de extração foram aprimorados e, iniciar a extração aos sete anos, revelou-se possível e mais lucrativo. A machadinha foi sendo substituída por facas que cortavam a casca em finas porções, e cortar repetidamente a mesma porção da casca resultava em um maior fluxo do precioso líquido. Verificou-se também que se podia sangrar a árvore em dias alternados durante o ano inteiro. Obtendo-se assim, uma produção anual de aproximadamente um quilo por árvore, produção essa que crescia à medida que a árvore se tornava adulta.
O resumo da vida desse inglês desastrado e quixotesco, obcecado com sonhos de grandeza. Que supunha que o roubo das sementes era uma ação nobre em prol do bem comum da “humanidade, do império britânico e da rainha”, é que, com a ajuda do então consulado britânico em Belém, conseguiu contrabandear para a Inglaterra, com sucesso, 70.000 sementes da Hevea brasiliensis.
A biopirataria de Wickham teve muitos desdobramentos, além da ruína econômica amazônica, deu à Inglaterra o monopólio global sobre um produto estratégico. Apesar dos serviços prestados à rainha, Henry não viu recompensado o seu feito e tampouco teve reconhecimento de pronto. Ao contrário, foi então esnobado pela aristocracia britânica por não ter educação formal e teve barrada sua ambição
de coordenar as plantações de borracha nas colônias asiáticas pelo diretor do então Jardim Botânico, que o considerava um picareta. Seu espetacular feito rendeu-lhe, tão somente, 700 libras.
Depois disso ele perambulou por Belize, Austrália e Papua Nova Guiné, onde voltou a colecionar fracassos. Sendo abandonado pela esposa em Nova Guiné, numa região habitada por canibais.
Trinta e sete anos depois, quando as árvores nascidas das mais de 2.700 sementes germinadas passaram a produzir a rica seiva, ele conseguiu, enfim, provar que estava certo.
Finalmente em 1920 seu feito teve reconhecimento, quando recebeu da rainha Vitória o título de Cavaleiro do Império Britânico. A partir de então, o filho de uma família de classe média, empobrecida de repente por causa da morte súbita do pai advogado, que convenceu toda a família a se mudar para Santarém. Lugar onde tentou estabelecer uma plantação de seringueiras, mas que viu seu projeto fracassar. Que em três anos viu sua mãe, sua irmã e a sogra de um irmão morrerem, sendo tratado por sir Henry Wickham e a ser conhecido como o pai da indústria da borracha. Sir Henry Wickham morreu em Londres, no dia 27 de setembro de 1928.

Fonte: IDD

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