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16 de agosto de 2024 às 18:00.

O sonho de Ford chega ao fim – Texto CXIX

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Na mesma época, as seringueiras adoeceram, sendo atacadas pelo mal-das-folhas, um fungo que reduzia a produção de látex e matava as árvores. Estudos anteriores à implantação da Fordlândia indicavam que a floresta protegeria as árvores dessa praga. Pois a distância entre as seringueiras diminuía a intensidade do ataque. No entanto, o Microcyclus praticamente dizimou o seringal nos primeiros anos. Em 1934, a Companhia formalizou com o Estado a permuta de 281 mil hectares da área original por outra de igual tamanho em Santarém, margem direita do Rio Tapajós, onde edificaram Belterra e iniciaram novo plantio racional de seringueiras. Seis anos depois de ter chegado a Fordlândia, a Companhia reiniciava do zero seu projeto de produzir borracha na Amazônia”.
O botânico James R. Weir, contratado em 1932 e especialista no cultivo de borracha, sugeriu que a área da Fordlândia fosse trocada por outra em Belterra. Weir havia trabalhado na American Rubber Mission e usou sua experiência para fazer essa recomendação. “Lá, o terreno era mais bem drenado, com mais vento e menos umidade – condições desfavoráveis à propagação do mal-das-folhas. Eles construíram outro núcleo urbano e repararam alguns erros. O traçado das plantações ainda era retilíneo, mas as mudas não eram locais, e sim trazidas do antigo Ceilão (atual Sri Lanka). O projeto ganhou novo fôlego. Mesmo assim, a produção era baixa, os trabalhadores reclamavam da alimentação e da falta de liberdade” e a falta de mão-de-obra permanecia sendo um problema. Mas a verdade é que os dados do ritmo da implantação dos seringais eram
baixos, nada animadores, “em 1929, havia 400 hectares de plantação. Em 1931, o volume cresceu apenas para 900. Muito inferior ao planejamento inicial: 200 mil hectares de seringueiras e rendimento médio de 1500 quilos de borracha por hectare”. Paralelo a isso, as plantações encontravam-se tomadas por fungos.
Dessa forma, a Fordlândia, que já havia recebido investimento de 7 milhões de dólares, acabou por tornar-se um centro de pesquisa e de viveiros para híbridos. Belterra foi erquida a pedido de Ford. Assim, “em 1936 já havia uma praça com igreja, salão de recreação, cinema ao ar livre, campo de golfe, piscina, caixa d’água, geradores de eletricidade, bangalôs para moradia, jardins e um moderno hospital. Presidente Getúlio Vargas visitou-a em outubro de 1940, quando pronunciou um discurso afirmando que “se houvesse neste mundo mais homens como o sr. Ford, não seria necessária nenhuma legislação social”. Durante o período da guerra, os presidentes brasileiro e americano assinaram um tratado garantindo a venda de toda a borracha brasileira para os EUA.

Os custos operacionais de Belterra e Fordlândia continuavam altos, apesar de quase 4 milhões de árvores hevea estarem cultivadas ali, com sementes trazidas do Acre e do Ceilão. A sugestão do botânico de abandonar Fordlândia e fundar Belterra se revelou desastrosa. As práticas de plantação favoreciam a disseminação de fungos e insetos, resultando em baixa produtividade e devastação de hectares. O uso e aperfeiçoamento da técnica de enxerto fortaleceram as seringueiras, mas o plantio de árvores próximas dificultava o combate às pragas. Desde 1928, isso resultou em prejuízos acumulados. O fim da Segunda Guerra Mundial e o surgimento da borracha sintética encerraram o sonho de Ford no Brasil, tornando a borracha natural menos atraente. Além disso, Estados Unidos e Inglaterra tornaram-se parceiros, o que fez com que os ingleses derrubassem o cartel da borracha no Sudeste Asiático.

Coube ao então novo dirigente da empresa e neto do fundador, Henry Ford II, a decisão de vender a Fordlândia. Vendeu-a ao governo brasileiro pela então bagatela de USD 244.200. Valor correspondente às indenizações devidas aos trabalhadores – o empreendimento talvez valesse mais de USD 8 milhões, isso sem considerar os USD 20 milhões investidos. O Instituto de Pesquisa Agrária do Norte (atual Embrapa) recebeu as plantações e benfeitorias. O então progressista agrônomo Felisberto Camargo, que chefiava o instituto, sugeriu a criação de cooperativas de seringueiros, uma ideia que Chico Mendes retomou bem depois. Hoje, as terras de Fordlândia fazem parte da Floresta Nacional do Tapajós”. “Hoje, Fordlândia está praticamente abandonada, tomada pelo mato. Belterra, pela proximidade com Santarém, tornou-se um município um tanto maior, com cerca de 17 mil habitantes”.
Apesar dos convites dos governos brasileiros e do apelo dos brasileiros, Ford jamais pisou em suas terras na Amazônia. Mas “sua presença podia ser sentida em qualquer lugar do país, nas ruas, nos carros, nos jornais ou na caixa d’agua da cidade que construiu”. “O governo federal adquiriu as benfeitorias e as plantações de seringueiras, porém não impediu a degradação de Fordlândia que viu seu patrimônio material ser dilapidado, ficando prédios em ruínas e lembranças de moradores remanescentes do tempo do fastígio da borracha”.
“Por esse valor simbólico, o então Governo Federal recebeu seis escolas (quatro em Belterra e duas em Fordlândia), dois hospitais, patrulhas sanitárias, captação, tratamento e distribuição de água nas duas cidades, usinas de força, mais de 70 quilômetros de estradas bem conservadas; dois portos; estação de rádio e telefonia; duas mil casas para trabalhadores; trinta galpões; centros de análise de doenças e autópsias; duas unidades de beneficiamento de látex; vilas de casas para a administração; departamento de pesquisa e análise de solo. Além de mais de cinco milhões de seringueiras plantadas: 1.900.000 em Fordlândia e 3.200.000 em Belterra”.

Fonte: IDD

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