[vc_row][vc_column][vc_column_text]
A eleição do dia 27 de agosto já tem seu vencedor e ele é Amazonino Mendes. O resultado da nossa pesquisa publicada na última quinta-feira, 10, em conjunto com o tracking (estudo diário, para consumo interno) nos dão a absoluta certeza dessa afirmação.
Amazonino assume, provavelmente, na primeira quinzena de setembro, para completar os quinze meses e alguns dias daquele que é considerado o pior mandato da história administrativa mais recente do Amazonas: o do governo de José Melo de Oliveira, cassado pela justiça eleitoral.
O então deputado federal Randolfo Bittencourt, em 1983, viabilizou a nomeação de Melo para o cargo de titular da Delegacia de Educação no Amazonas, órgão do Ministério da Educação. Anos antes, Melo foi funcionário da Universidade do Amazonas, onde exerceu, inclusive, a função de assessor de segurança, órgão vinculado ao Serviço Nacional de Informações, conforme publicado em “A Notícia” de 5 de fevereiro de 1977.
Pelas mãos de Amazonino, Melo se elegeu por três vezes deputado sem sabermos de nenhuma contribuição sua ao parlamento estadual ou federal. Foi secretário de Amazonino e o principal articulador do segundo governo de Eduardo Braga. Na sequência, foi vice-governador de Omar Aziz, por imposição de Eduardo.
Em suma, ele foi um dos “netos” da matriz política criada por Gilberto Mestrinho, em 1982 (o outro professor a ocupar a cadeira mais importante do poder regional). Hoje, José Melo vive um tipo especial de ostracismo e estigma que gera uma dor dilacerante. Ouviu e seguiu três pessoas que o destruíram.
Gilberto Mestrinho indicou Amazonino Mendes para ser prefeito biônico, com o aval da Assembleia Legislativa, onde obteve doze votos dos 24 deputados, em 24 de março de 1983 (onze votaram em branco e um votou contra).
Amazonino se impõe no grupo liderado por Gilberto através de uma administração com fortíssimo apelo populista e supera os denominados autênticos do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) – Artur Neto, Mário Frota, Felix Valois, entre outros – na disputa interna do grupo para a indicação do candidato de Mestrinho para a eleição de 15 de novembro 1986. Um ano antes, o vice de Gilberto, Manoel Ribeiro, foi eleito prefeito de Manaus, pelo voto direto.
Os autênticos rompem com Mestrinho, migram para o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e formam o movimento “Muda Amazonas”, que é derrotado em 1986, tendo, à frente, o então deputado federal Artur Neto como candidato a governador.
Amazonino chega aos 47 anos ao comando do governo estadual, em março de 1987. E em 1988, Artur se elege prefeito de Manaus pela primeira vez, aos 43 anos, contra o grupo que o derrotou dois anos antes na figura de Gilberto como candidato. Amazonino faz aniversário no dia 16 de novembro e Artur, no dia 15 do mesmo mês (comemorou seu aniversário com uma vitória eleitoral).
Aos 22 anos de idade, Eduardo Braga foi eleito vereador pelo Partido Democrático Social (PDS), partido do regime militar nas eleições de 1982. Braga se elege pela estrutura e por um sonho de família. Diga-se de passagem, Braga nunca teve a menor relação com o movimento estudantil (para repor outra verdade sobre os personagens políticos).
Em pouco tempo, torna-se, por competência, um dos principais integrantes do grupo de Amazonino e se elege deputado estadual (1986) ao lado do seu maior aliado. Como deputado, vira relator da constituinte estadual. Elege-se deputado federal em 1990 com Mestrinho governador e Amazonino, senador.
Impossível não citar a escolha pessoal do nome de Eduardo Braga como vice de Amazonino em 1992 para a campanha vitoriosa à Prefeitura de Manaus. Ganhou a indicação entre vários aliados que sonhavam com essa possibilidade. E esse fato é determinante para o curso da carreira de quase todos os nomes que chegariam ao poder posteriormente.
A ação conjunta do governador Amazonino com o prefeito Eduardo, em 1995, traz para Braga a imagem do gestor competente, sendo ele o grande responsável pela vitória da chapa Alfredo Nascimento e Omar Aziz para a prefeitura em 1996, contra Serafim Corrêa. Durante os primeiros meses do mandato de Alfredo, este deixa de cumprir os acordos com Eduardo, o que potencializa o ciclo dos desacertos, de parte a parte, do grupo hegemônico da política amazonense.
Eduardo perde as eleições de 1998 para Amazonino e de 2000 para Alfredo. Mesmo assim, em 2002, Amazonino contraria seu grupo político e escolhe Braga, o renegado, para lhe suceder (naquela eleição, Eduardo teria dificuldades para se eleger deputado federal). A roda do destino acontece por gestos internos que a sociedade não tem a menor ideia de como ocorrem. Quiçá, um dia, alguém revele os fatos com mais detalhes.
Entre brigas e alianças, que valem páginas e mais páginas para descrever esta relação, destaco que, na eleição de 2014, Amazonino ficou com Eduardo e não com José Melo.
Braga perdeu esta eleição de 2017. No tira-teima contra Amazonino, está dois para Mendes (1998 e 2017) e um para Eduardo (2006). Acumula, agora, quatro derrotas e sete vitórias. Mendes, que estava em casa à espera do barqueiro Caronte, venceu novamente um dos seus filhos prediletos, desta vez, com a ajuda imensurável de outro – Omar Aziz -, que devolve, agora, todas as oportunidades obtidas com Amazonino. Um caso de gratidão e de análise sociológica para tentar se compreender o eleitor amazonense.
Eduardo sai derrotado desta eleição suplementar por inúmeros motivos, tais como sua relação de ira e superioridade com as pessoas; sua posição equivocada de não fazer oposição sistematizada ao governo estadual nos últimos três anos; sua atuação como ministro percebida, até, como vingativa pelo povo amazonense (vide a questão da tarifa de energia); seu comportamento na votação do impeachment de Dilma; sua péssima aliança com Marcelo Ramos, e, principalmente, a sua imagem associada à operação Lava Jato.
Entretanto, Eduardo Braga não está morto, em 2018. Vamos acabar com certos fatalismos. Ou será que alguém, em março deste ano, poderia acreditar que Amazonino seria novamente governador?
Braga pode, sim, reeleger-se senador e, com absoluta certeza, seria eleito deputado federal. É a gestão de Amazonino que vai decidir os rumos de Eduardo (e de vários outros políticos). O futuro de um está ligado ao do outro. Em algumas semanas, o universo político já começará a articular a futura eleição. Não há vácuo na política.
Amazonino, como num passe de mágica, colocará boa parte dos rebeldes deputados estaduais ao seu lado. Os atuais gritos de revolta serão transformados em votos de confiança e de amor.
O que mais deverá preocupar Mendes é a composição de seu governo. Quase 80% de seus eleitores não querem ver os velhos aliados e puxa-sacos de primeira grandeza no segundo escalão do governo. Querem uma radical mudança de nomes e de postura gerencial. O primeiro mês da gestão de Amazonino determinará se ele realmente quer se reeleger. Erra quem pensar o contrário. O povo está lhe dando uma oportunidade ímpar. O Negão não tem o direito de errar.
Em resumo: é lugar-comum dizer que a política amazonense gira em torno de uma meia dúzia de nomes que se amam e se odeiam conforme cada eleição. Os ataques desferidos em cada campanha perdem a credibilidade, porque, na eleição seguinte, lá estão eles se elogiando, tudo sempre “em prol do Amazonas e de Manaus”. Os interesses individuais são infinitamente superiores aos coletivos. O que vale é a sobrevivência até o último dia de suas vidas.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]