“O ano de 1968 foi o pior de todos os tempos, na mais improvável das cidades, para se fundar um grupo de teatro. Ainda assim nasceu o TESC, o Teatro Experimental do SESC do Amazonas. Da cabeça do poeta Aldísio Filgueiras, da ação do teatrólogo Nielson Menão e da vontade da direção do SESC do Amazonas. Após um curso de artes cênicas ministrado por Nielson Menão, o SESC decide organizar um grupo de teatro permanente, que fez história e iria se transformar no grande espaço de resistência cultural num momento de angústias e transformações“.
Contrastando com o conceito cunhado por Márcio Souza de “o pior de todos os tempos”, naquele ano de 1968, o governo militar anunciava medidas para a ocupação da região, dentre elas a extensão da Zona Franca para o interior, prioridade para telecomunicações, energia elétrica, água e esgotos, integração e ocupação do território, rodovias, ampliação do porto, pesquisa mineral, aumento da capacidade da refinaria de Manaus, projetos que objetivavam acompanhar o progresso nacional em andamento.
As medidas anunciadas pelo governo prometiam, o cenário descrito por Márcio Souza não mentia, mesmo assim Manaus inicia a era dos Festivais com a realização do Iº Festival de Música Estudantil do Amazonas, promovido pelo DEPRO – DCE- UESA. O Festival ocorreu no Teatro Amazonas, no período de 26 a 28 de novembro. Sagrou-se vencedora a música “Giramundo”, de Aníbal Beça.
Em 1969 acontece o IIº Festival de Música Estudantil do Amazonas, desta vez realizado no Atlético Rio Negro Clube, no período de 16 a 18 de setembro. O Evento trouxe como atração para o seu encerramento, o conjunto musical Os Mutantes, grupo que havia acabado de se classificar para a final do Festival Internacional da Música, no Rio de Janeiro.
A música Jogo de Calçada, de Ilton Oliveira e Wandler Cunha, tirou o segundo lugar no Festival, mas em primeiro no gosto de Os Mutantes.
“O Ilton escreveu a letra de ‘Jogo de calçada’ e me entregou para eu fazer a música e participarmos do festival. Para nossa felicidade, ficamos em segundo lugar e, enquanto eu me apresentava, Os Mutantes estavam atrás do palco esperando a hora de entrar. Eles ouviram a música e depois o Joaquim me chamou num canto dizendo que o Serginho [Dias] queria falar comigo. Fiquei muito surpreso com isso e fui lá bater um papo rápido com ele, a Rita Lee e o Arnaldo Baptista”. “Os Mutantes respeitaram a harmonia e a melodia originais, mas Arnaldo Baptista mudou algumas palavras da letra e acabou entrando como coautor da música”, diz Wandler Cunha.
A partir de 1969, com a Zona Franca de Manaus, o comércio se expande e os meios de comunicação ficam mais viáveis com a chegada de mais emissoras de rádio e televisão. Era o Governo Federal almejando o desenvolvimento acelerado da região, se empenhando “em converter a Amazônia no celeiro do Brasil e do mundo”.
O desenvolvimento acelerado, almejado pelo Governo Militar, trouxe consequências irreversíveis, “Manaus era uma cidade vegetal, com folhas, flores e frutos em todos os quintais. Uma cidade verde e perfumada. Aquela cidade da minha infância, infelizmente, não existe mais”. O poeta, escritor, blogueiro e compositor Simão Pessoa já deveria ter versado e musicado esse enredo-lamento que é de todos nós. Tomara que ele não esteja esperando que o pai Dudu de Ogum evoque o ex-governador Arthur Reis para que esse o encomende. Cuida, Simão!