Os ventos políticos que sopram de Washington prometem agitar a economia latino-americana em 2025. O retorno de Donald Trump à Casa Branca acende um alerta vermelho para a região: tarifas, barreiras comerciais e uma política externa menos amigável com vizinhos do sul devem redesenhar o jogo para países que, de uma forma ou de outra, dependem da relação com os Estados Unidos.
O primeiro a sentir o impacto será o México. Com a economia profundamente conectada à dos EUA, o país pode se ver diante de novas ameaças tarifárias e de um ambiente de negócios carregado de incertezas. Trump já indicou que pretende rever o acordo comercial entre México, Canadá e Estados Unidos (USMCA), o que pode minar a confiança dos investidores e travar o crescimento mexicano. Além disso, a retórica anti-imigração voltará com força, e a pressão para que o México controle suas fronteiras e reduza a entrada de migrantes nos EUA deve ser intensa.
Mas os desafios não param por aí. Países exportadores sem um acordo de livre comércio com os americanos também devem enfrentar dificuldades. Enquanto alguns governos latino-americanos tentam expandir seus laços comerciais, o protecionismo de Trump pode dificultar o acesso a um dos maiores mercados consumidores do mundo. E para as nações que dependem das remessas enviadas por imigrantes que trabalham nos EUA, a ameaça de deportações em massa pode ter um efeito devastador a longo prazo.
A América Latina, no entanto, não está sem opções. Com os Estados Unidos retraídos em uma postura mais fechada, a China surge como uma peça-chave no novo tabuleiro. Pequim já tem grande influência na região e financia alguns dos maiores projetos de infraestrutura da América Latina. Um dos exemplos mais emblemáticos é o Porto de Chancay, no Peru, que deve se tornar um dos principais hubs comerciais da China na América do Sul. Esse movimento abre caminho para uma nova onda de investimentos chineses em logística e infraestrutura, algo que pode beneficiar economias vizinhas e tornar a influência da China na região ainda mais profunda.
No entanto, essa relação sino-latino-americana não será isenta de atritos. Trump já demonstrou disposição para endurecer as regras contra investimentos chineses no exterior, e países como Brasil, México e Argentina, que têm atraído bilhões em investimentos para o setor de minerais críticos e tecnologia verde, podem se ver no centro dessa disputa geopolítica.
O mercado de minerais críticos, especialmente o lítio, será um dos pontos mais sensíveis dessa nova fase. O chamado “triângulo do lítio”, formado por Argentina, Bolívia e Chile, já é um dos principais polos de extração do mineral essencial para baterias de carros elétricos. Mas com Trump no comando, os EUA podem reduzir sua participação nesse setor, deixando o caminho aberto para a China e a União Europeia liderarem os investimentos.
Outro fator que deve impactar a América Latina é o futuro do dólar e o custo do crédito internacional. A vitória de Trump fortaleceu a moeda americana e elevou as incertezas no mercado financeiro. Para países endividados, isso significa que pegar dinheiro emprestado ficará mais caro. No entanto, especialistas ainda acreditam que as taxas de juros nos EUA cairão em 2025, o que pode aliviar parte da pressão e permitir que governos latino-americanos emitam títulos soberanos para financiar suas contas.
No final das contas, a América Latina está prestes a entrar em um novo ciclo de desafios e oportunidades. Se, por um lado, o protecionismo americano e as novas barreiras comerciais podem dificultar o crescimento econômico da região, por outro, a necessidade de investimentos em infraestrutura e a crescente influência chinesa oferecem caminhos alternativos.
A grande questão para os próximos anos será: os governos latino-americanos conseguirão se adaptar a esse novo cenário global? Ou ficarão à deriva enquanto os gigantes econômicos disputam sua influência na região?
O jogo está aberto. E 2025 promete ser um ano decisivo.
Fonte: The Economist Intelligence Unit (EIU)