As eleições municipais em Manaus têm sido um tema de grande interesse e movimentação política. Para esclarecer alguns pontos e desmistificar boatos, o RealTime1 entrevistou Durango Duarte, CEO da empresa Perspectiva Mercado e Opinião.
Durango abordou assuntos cruciais, desde supostas candidaturas até estratégias de alianças entre os principais nomes na disputa.
RT1: Manaus possui, hoje, nove pré-candidatos a prefeito. O eleitorado de Manaus está sintonizado com o que eles estão apresentando para a cidade?
Durango Duarte: Talvez 30% esteja acompanhando quatro ou cinco candidatos. Os outros 70% ainda não estão emocionalmente vinculados ao processo eleitoral, conforme evidenciado pela resposta espontânea das pesquisas divulgadas e pelo índice de eleitores que já têm candidato definido.
RT1: Qual o peso do presidente Lula (PT) nas eleições municipais? Ele já conseguiu transferir votos de quem o elegeu em 2020?
Durango Duarte: Não. Lula (PT) terá que fazer muito mais para agregar votos ao seu candidato. Quem sabe a BR-319, entre outras propostas de seu governo, possam ajudar. Mas, pelo que se observa nos 100 maiores colégios eleitorais do Brasil, o PT provavelmente enfrentará uma derrota significativa.
RT1: E o voto de Bolsonaro (PL), já está garantido para algum candidato?
Durango Duarte: Não. Bolsonaro (PL) ainda pode ajudar a incrementar de 5 a 8% os votos de uma candidatura que ele apoiar. Alberto Neto (PL) ganhou quatro pontos percentuais com o apoio dele. O estudo da Quaest é a melhor interpretação da realidade. Se me perguntassem se há espaço para a direita crescer, eu diria que sim.
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RT1: As chamadas máquinas eleitorais ainda decidem eleições?
Durango Duarte: Só se for pela capacidade de gerar recursos para a campanha. Em períodos eleitorais, muitos servidores públicos, estaduais e municipais, parecem ser acometidos por uma ‘coceira’ de traição invisível.
RT1: Sobre o atual cenário político, como o governador Wilson Lima (União Brasil) tem se posicionado?
Durango Duarte: O governador Wilson Lima está claramente determinado a derrotar o atual prefeito em seu projeto de reeleição. Nas últimas 24 horas, ele conversou com Alberto Neto, do PL, e Roberto Cidade, do União Brasil. Ele orientou que eles têm mais duas semanas para firmarem uma aliança; caso contrário, o governador pode até considerar apoiar a candidatura do deputado federal Amom Mandel (Cidadania). É interessante notar que, recentemente, Amom parou de atacar o governo.
RT1: Como estão as chances de Alberto Neto (PL) e Roberto Cidade (União Brasil)?
Durango Duarte: Alberto Neto (PL) tem, em média, cinco pontos de vantagem sobre Roberto Cidade (União Brasil), segundo estudos internos dos diversos partidos. E neste intervalo de duas semanas, não há uma ‘mágica’ que possa mudar drasticamente este quadro eleitoral. Além disso, as alianças entre Roberto Cidade (União Brasil) e Alberto Neto (PL) são praticamente inviáveis no momento.
RT1: Inviáveis? Não seria muito cedo para essa afirmação?
Durango Duarte: Não tenho a menor dúvida de que esse acordo não será possível. Bolsonaro não admitiria essa aliança e não se envolveria no projeto de Roberto Cidade (União Brasil). Esta é uma decisão nacional e não apenas regional. Bolsonaro (PL) só atuará a favor de uma candidatura em Manaus: a de Alberto Neto (PL). Caso contrário, não apoiará mais ninguém.
RT1: E quanto ao deputado Amom Mandel (Cidadania)?
Durango Duarte: Amom está visivelmente em queda, conforme os estudos internos de três grupos políticos aos quais tive acesso. Isso coloca o governador Wilson Lima (União Brasil) em um dilema: manter a pré-candidatura de Roberto Cidade (União Brasil) sem viabilidade; tentar uma união com Alberto Neto (PL), mas o orgulho do presidente da Aleam é maior do que o Amazonas, o que inviabiliza qualquer acerto eleitoral. Wilson Lima (União Brasil) pode pagar o preço de acreditar que Amom (Cidadania) ainda é viável? Essa é uma resposta que nunca saberemos.
RT1: Quem tem se beneficiado desse cenário de incertezas e alianças que já parecem nascer fracassadas?
Durango Duarte: O maior beneficiário dessa confusão é o atual prefeito David Almeida (Avante). Ele segue mantendo os números que variam de 30 a 33%, enquanto os adversários não conseguem se unir de forma eficaz.
RT1: Qual seria, então, a equação para tentar derrotar David Almeida (Avante)?
Durango Duarte: Zerar o jogo e juntar os três pré-candidatos: Amom, Alberto Neto e Roberto Cidade. Um seria prefeito, um segundo vice e o outro ganharia uma compensação. Mas será que alguém acredita sinceramente nisso?
RT1: Sobre a questão do nome para vice de David Almeida (Avante), onde existem múltiplas expectativas, qual seu sentimento?
Durango Duarte: Onde já vi e acompanhei de perto, novamente vou assistir até boi voar no dia da convenção.
RT1: Algum outro candidato tem se destacado?
Durango Duarte: Sim, o ex-deputado Marcelo Ramos (PT) tem se posicionado melhor que todos os outros pré-candidatos. Ele é o que tem apresentado melhor conteúdo nesta campanha. Ele é o grande responsável por “desidratar” a pré-candidatura de Amom (Cidadania). No entanto, essa desidratação do Amom não tem se convertido em votos a favor dele, ficando tecnicamente empatado com Roberto Cidade.
RT1: Qual sua opinião, como ex-dirigente do PCdoB na década de 80, dessa insistência do presidente estadual do PCdoB em ser candidato pela Federação PT/PCdoB/PV?
Durango Duarte: É um direito legítimo do camarada Eron (PCdoB), entretanto, ele está desconexo da realidade e das demandas que a Federação teria que ter em relação ao presidente Lula (PT), já que Marcelo (PT) fez em 30 dias pelo Lula, o que a Federação integrada por todos os seus dirigentes, incluindo deputados, vereadores e pessoas de alta referência no Amazonas, não fizeram em 16 meses. Vale destacar que Marcelo Ramos (PT) ingressou no partido há 2 meses.
RT1: E o apresentador de televisão Sikera será mesmo candidato?
Durango Duarte: Isso é uma fake news. E comprovo com o PDF do Tribunal Superior Eleitoral (TSE):
RT1: Como você avalia as pré-candidaturas de Maria do Carmo Seffair (Novo), Wilker Barreto (Mobiliza), Natália Demes (PSol) e Gilberto Vasconcelos (PSTU)?
Durango: Acho que Maria do Carmo (Novo) gerou uma enorme expectativa, de alguma maneira até frustrante, para certos segmentos da sociedade e não conseguiu, ainda, fazer uma agenda incisiva para se inserir no debate como competitiva. O deputado estadual Wilker Barreto(Mobiliza) tem feito uma estratégia livre de bater tanto no prefeito, quanto no governador, mas não consegue catalisar os sentimentos eventualmente negativos das duas gestões a seu favor, ficando uma candidatura amarrada a um limite entre 2 a 4%, o que historicamente já se viu em todas as eleições de candidaturas semelhantes a dele. Os outros dois candidatos, são candidatos que como se falava antigamente no antigo instituto Ibope quando não atinge nenhum ponto percentual: “é traço”.
RT1: No início do ano você declarou ao RealTime1, e já reiterou isso em um vídeo publicado em suas redes sociais, que não realizaria nenhuma pesquisa eleitoral, a não ser a pesquisa de boca de urna, no dia da eleição. Como um dos mais antigos pesquisadores do mercado, qual a sua opinião sobre o resultado das 13 pesquisas já divulgadas para prefeito de Manaus e qual a sua análise sobre os estudos realizados por essas empresas?
Durango Duarte: Apesar de algumas empresas só realizarem pesquisas em períodos eleitorais, e por esse motivo não possuem experiência, nem estrutura profissional de pesquisa, não seria ético comentar o trabalho realizado por elas. Mas pelo que tenho acompanhado, dos 13 estudos publicados, de 9 a 10 devem ser denunciados e impugnados por fraude, incoerências, inconsistências ou por equívoco no registro. Tive acesso a alguns relatórios e fiquei estarrecido com o que vi. Diria que há casos de fraude comprovadas e caso essa seja a conclusão da Justiça Eleitoral, três empresas regionais deverão fechar as portas imediatamente, pois já estarão com seus portfólios comprometidos e manchados na história. No entanto caso a Justiça simplesmente decida apenas impugnar e não condenar por fraude, farei um artigo explicando didaticamente os crimes eleitorais.
RT1: E verdade que você estará trabalhando fora de Manaus pela primeira vez em 40 anos de atividade profissional?
Durango Duarte: Sim, vou colaborar em três outras capitais. Neste momento estou me atualizando fazendo dois cursos, um em Paris e outro em Londres. Neste domingo acompanhei de perto as eleições para o parlamento europeu na cidade de Bruxelas.
RT1: Sobre as eleições proporcionais, qual a qualidade dos 41 vereadores que você espera que se elejam em 6 de outubro?
Durango Duarte: Simples, a cara mais limpa e suja do eleitorado, do crime organizado aos falsos religiosos, dos hipócritas da direita e da esquerda, dos puxa sacos de qualquer prefeito, das capitanias hereditárias e até aos mais honestos edis, e assim sucessivamente. Não estaremos melhores em fevereiro de 2025, mas o debate na casa será mais a acirrado, a pasmaceira será menor. Ulisses Guimarães, logo após promulgar a Constituição de 88 disse que o Parlamento, a cada legislatura, iria ficar pior. Parece que a máxima se replica em todos os parlamentos, inclusive no nosso.
RT1: O que podemos esperar nas próximas semanas para a política municipal em Manaus?
Durango Duarte: Podemos esperar muita movimentação e possivelmente algumas reviravoltas. Mas, com as alianças difíceis de serem firmadas, o cenário continuará bastante imprevisível.
RT1: Quem ganha a eleição no segundo turno?
Durango Duarte: Nem nos auge do pai Dudu de Ogum, personagem que criei há muitos anos, saberia dar esta resposta. O eleitor anda desconfiado, assustado, em dúvida do que é melhor para ele e sua família. Cansado de suas opções passadas. Então, temos uma incógnita!
Fonte: RealTime1
