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10 de junho de 2024 às 18:00.

A prática do arrocho desertifica o Rio Jary – Texto LXXVIII

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No relatório de 1855, apresentado à Assembleia Legislativa Provincial, o presidente da Província, doutor João Pedro Dias Vieira, denunciou a generalização do uso do “arrocho” na extração do leite da seringa. Ele destacou que essa prática já era comum no Pará e estava se repetindo na Província. Esse hábito, assim entendia, era nociva e em breve espaço de tempo estragaria os seringais.
A despeito dessa prática perniciosa, que mais tarde traria consequências lutuosas, ano após ano a arrecadação da então Província só aumentava. Junto com o crescimento da arrecadação, também crescia a necessidade de iluminação a gás na capital. Diante desse quadro, ainda que insuficientemente
para atender a demanda do momento, 25 lampiões foram adquiridos pelo governo Provincial.
A 04 de setembro de 1856, a Assembleia Provincial sancionou a Lei nº 68, que mudava o nome de Barra do Rio Negro para Manaus.
O fato foi motivo de comemoração para a população, tanto que o periódico Estrela do Amazonas destacou: “todos acham o nome Manaós mais nosso, mais significativo”. Isso porque o novo nome distinguia os grupos indígenas que ali habitavam: Barés, Passés, Banibas e Manaós.
A catequese e civilização dos índios na Província eram tarefas conduzidas pelos jesuítas com o objetivo de converter os indígenas à fé católica. Esse esforço visava unificar a fé e a consciência sob a orientação do poder real e da Igreja, garantindo a unidade política. No entanto, essas atividades ainda estavam atrasadas na Província.
Homens para as obras públicas eram escassos, em geral ébrios, desordeiros e preguiçosos, a prova disso é que a serraria e a olaria de Itacoatiara, pertencentes à Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, dispunham em seu quadro funcional, segundo seu relatório, de 34 africanos livres.
Diferente de todas as regiões do Brasil Império, a presença de escravos africanos na Amazônia era escassa, muito provavelmente pelas peculiaridades da atividade econômica, baseada no extrativismo e coleta de produtos que a natureza oferecia o que se constituía num fator complicador para o controle da
mão de obra de negros escravos. Daí se explica a presença de escravos livres no quadro de pessoal da Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas ou nas atividades voltadas para a agricultura e não para atividades coletoras. Os trabalhadores nacionais livres e, principalmente, os nordestinos, esses sim, se encarregavam do trabalho de extração e coleta do látex.
Entre 1861 e 1864 o quadro de exportação de café e fumo começava a apresentar decréscimo, enquanto a borracha saltava de 16.777 para 35.625 arrobas.
Entretanto, paralelo ao crescimento de exportação da borracha, em 1863, oito anos após a denúncia apresentada no relatório do presidente da Província, doutor João Pedro Dias Vieira. O emprego da técnica de arrocho transformava o rio Jary, antes pujante centro de produção da borracha, em área de desertificação. Identificava-se àquela altura a imprescindibilidade do uso de processo racional, menos nocivo e padronizado, a tigelinha. A necessidade de regularidade industrial supunha, cada vez mais, o uso de braços.

Fonte: IDD

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