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19 de junho de 2024 às 18:00.

A Emigração cearense para o Amazonas – Texto LXXXVIII

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Duas ocorrências significativas abalaram o Nordeste do Brasil: a queda do preço do algodão – grande produto de exportação da região – devido à concorrência norte-americana e, principalmente, a impiedosa seca que o atingiu, entre 1877- 1879. Durante três anos seguidos, não choveu, ninguém semeou, ninguém colheu, os rebanhos morreram e os homens fugiram para não morrer. O evento acabou com quase todo o rebanho da região, dizimou entre cem a 200 mil pessoas. No Ceará promoveu então um êxodo sem precedentes de cearenses para a capital e para outras cidades da Província.
A população cearense, à época, era de 800 mil habitantes. Desses, 120 mil (ou 15%) emigraram para a Amazônia e outras 68 mil pessoas saíram para outros Estados, seduzidos que foram pela intensa propaganda fantasiosa dos governos locais.
Os governos dos Estados da Amazônia que tinham interesse na mão-de-obra nordestina, trataram então de organizar serviços de propaganda e conceder subsídios para gastos de transporte. Dessa forma, formou-se uma grande corrente migratória.
O último polo de recepção de migrantes foi a Província do Amazonas. A maior unidade da federação em extensão territorial e aquela que tinha então a maior carência de trabalhadores para a produção agrícola e a extrativista.
No início das grandes ondas migratórias cearenses, a expectativa não era necessariamente a exploração da borracha, “muitos retirantes buscavam oportunidades em atividades tradicionais, tais como a produção agrícola ou o trabalho em obras públicas. O isolamento do seringal foi um dos recursos quando outras possibilidades foram negadas.
Sobre a situação da produção agrícola, Arthur Cezar Ferreira Reis afirmou: “De 1860 até a República, manifestou-se a decadência, que se acentuou dia a dia. O café, que em 1830 se expressava em 6.200 arrobas, nesse ano desceu a 270. O tabaco, em 1830 em 5.643 arrobas, caiu para 2.270”. Somente o trato com cacau, “em muitos pontos encontrado nativo, manteve-se em prosperidade”. Alguns produtos extrativistas (breu, cravo, estopa, piaçava, salsaparrilha e castanhas) mereciam destaque, mas a “todos se sobrepujavam a Borracha”.
FONTE: Retirantes cearenses na província do Amazonas: colonização, trabalho e conflitos
(1877-1879) – Edson Holanda Lima Barboza.

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